sábado, abril 02, 2005

Fracasso ou sucesso

José Carlos – ou Zé – era um menino comum. Aparência franzina, sem atrativos físicos, mas aplicado nos estudos (foi o que lhe sobrou). Tinha uma queda pela garota popular da escola, que nem sabia que ele existia. Também achava a professora de inglês o máximo – um sonho de consumo. Gostava quando ela lhe dava atenção. Puxa vida! Mas tinha tantos outros caras mais legais do que ele, fortes e cheios de “minas”! Olhava-se no espelho todas as manhãs e não gostava do que via. Mas enfim, era ele. Alguma auto-estima havia...
Nos campeonatos esportivos da escola era invariavelmente do time dos “mocorongos” (alcunha que significava bobo e fraco ao mesmo tempo). Num campeonato escolar de futsal, ficou nesse time dos excluídos. Estas competições mexem com a masculinidade do menino adolescente. Os melhores, os mais fortes, vencem. Talvez consigam mais atenção da professora de inglês e possam sonhar com a garota popular. Infelizmente não foi dessa vez para José. Apesar da luta, o time dos “café-com-leite” ficou num previsível último lugar. José sentira, o gosto amargo da derrota. Parecia que nada dava certo. Não ficou para assistir a glória dos vencedores. Saiu da escola rapidamente. Chegou em casa, entrou em seu quarto, esticou-se na cama e chorou em silêncio. Acreditava que não tinha razões para continuar “uma carreira esportiva” fracassada. Prometeu a si não envolver-se mais com estes assuntos....
Os dias passaram-se. José teve tempo de esfriar sua cabeça. Pensou nas razões de sua derrota. Resolveu tomar algumas providências. Passou a treinar um pouco. A envolver-se em jogos na rua, além da dedicação aos estudos. Não tinha habilidades espetaculares. Era esforçado.
Uma nova chance aparecia. O próximo campeonato escolar de futsal! Bom, as lembranças do último não eram lá muito boas. Mas, agora José parecia melhor. A derrota passada já não doía tanto. Sua condição de excluído, entretanto, ainda não era muito diferente em relação ao ano anterior. O time parecia melhor. Não tinha ainda nenhum dos “grandes caras”. Mas surpreendentemente foi despachando um-a-um os concorrentes.
Sobrou na final o melhor time contra o time de José. Parecia que o “Exército de Brancaleone” multiplicava-se na quadra. Neste dia, José desdobrou-se. Inclusive abriu a contagem numa jogada simples. Nada de firulas. Era uma final.
O outro time empataria e o jogo iria para a prorrogação. Porém, um chute seco selou a sorte do time de José. Mais uma vez o odor da derrota impregnava o ar. O céu desabara sobre sua cabeça. Conseguiu conter-se. Como um guerreiro vencido, levantou-se e assistiu seus algozes serem premiados. Incrível como agüentou aquilo tudo. Parecia que alguma coisa tinha sido diferente...Saiu. Foi para casa devagar. Entrou em seu quarto e esticou-se na cama. Tentou conter-se. Não deu. Mais uma vez chorou em silêncio.
Um ou dois campeonatos mais, e o time de José conseguiria ganhar alguma coisa. Não me lembro bem. Depois tocou sua vida e construiu muitas coisas boas no futuro.
Mas tudo isso não é o mais importante. O importante é que vencedores geralmente foram “grandes fracassados” como José. Invariáveis perdedores.
Estamos acostumados a ver o sucesso e o fracasso como acontecimentos absolutos. Não são. São contextualizados, adequados ao tempo e espaço. O fracasso é mais comum do que se imagina. O sucesso é efêmero. Não é um culto de minha parte à “fracassomania” – como diria Fernando Henrique Cardoso. Mas, saber lidar com a frustração da derrota é um ingrediente essencial para forjar vitórias. Algumas vitórias não são tão evidentes como as que são premiadas com troféus. Parecem fracassos. Não são.

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